A propriedade:
Muitos autores interpretam o papel dos Ávila de várias maneiras, mas uma das principais é sua missão de conquista. Mas para entendermos como isso foi possível, temos primeiramente termos conhecimento das circunstancias que proporcionaram tal façanha. Refiro-me do seu poder, econômico, político e ate mesmo bélico.
A imensidão da Casa da Torre é tão grande, que chega mesmo ser tida como maior que muitos reinos, que se expandiu por vários Estados do Nordeste brasileiro. Tendo como sede dessa grande latifúndio a Casa da Torre, localizada na Praia do Forte, que é chamada até mesmo de Castelo ou Solar feudal. Tamanha é a sua importância neste vasto poder territorial.
Seu latifúndio começa através da doação de Tomé de Souza ao 1º Garcia D´Avila de sesmarias terras ao norte de Salvador. A partir daí começa o empreendimento “curralista” dos Ávila. Antes mesmo do fim do governo de Tomé de Souza Garcia D´Avila já se tornará um rico proprietário de currais. Em menos de 20 anos ampliou seu domínio. É importante ressaltar que Garcia D´Avila era protegido de Tomé de Souza, sendo pessoa de confiança do Governador, ajudando-o na instalação do Governo-Geral.
Por haver bastante vinculo entre Tomé de Souza e seu protegido Garcia D´Avila, ocasionando o oferecimento de benefícios do primeiro para com o segundo, surge a hipótese, defendida por Moniz Bandeira, de que Garcia D´Avila, jovem enérgico, autoritário e audacioso, era filho bastardo de Tomé de Souza. A partir daí seus descendentes aumentarão cada vez mais o vasto patrimônio da família Ávila, pois Garcia D´Avila tornar-se-á o verdadeiro herdeiro de Tomé de Souza. Mas para ampliar seus currais de gado e sua fortuna, continuava adentrando os sertões à frente de suas forças armadas, formada a maioria por índios.
Esse aumento de poderio está relacionado à conquista e incorporação de várias regiões à suas terras, tido como maiores que muitos reinos. Segundo Ângelo Emilio, graças aos abusos de poder, principalmente em relação aos índios, a qual muitos foram dizimados. Já Moniz Bandeira, relaciona Garcia D´Avila como desbravador, adentrando os sertões juntamente com suas tropas portugueses e índios mansos. Sendo que estas terras pertencentes à casa da Torre eram sesmarias de vários Estados do Nordeste, inclusive Sergipe. Criando assim um grande monopólio, tornando a população livre dependente deste latifundiário. É tido, propriamente dito como um sistema feudalista, o qual Muniz Bandeira já intitula em sua obra “O Feudo”, defendendo essa idéia, de que a Casa da Torre, corresponde a um feudalismo. Pois, por gerações deteve uma grande área territorial, poder econômico, político e bélico. Sendo que, a imensidão do território no sertão nordestino, abrange recursos naturais privilegiados, assim territórios vizinhos tonam-se dependentes da Casa da Torre.
Já Capistrano de Abreu em Capítulos da História Colonial diz que para Garcia D´Avila construir seu patrimônio precisou apenas da sua influencia política sobre as autoridades de Salvador, gastando assim apenas, “papel e tinta em requerimento de sesmarias.” Garcia D´Avila tornou-se o homem com mais prestígio político na Bahia, no final do século XVI, até a sua morte. Assim, seus herdeiros e sesmeiros tiveram muito prestígio na ocupação do território sergipano.
Índios, missionários e currais:
Segundo a historiografia baiana e Muniz Bandeira em O Feudo, os Avila, são tidos como heróis e civilizados, mas Ângelo Emilio, em sua tese defende a idéia de que para a expansão da pecuária no sertão nordestino está relacionado ao massacre de vários povos indignas.
Os mamelucos e as tentativas de integração:
Mesmo massacrando muitos índios, outros mantinham forte relação com a Ávila, principalmente frutos da miscigenação, tornando-se a base do seu exercito em suas expedições. Portanto, havia um grande controle sobre os índios para sua defesa ou como mão-de-obra para serviços, e os mamelucos era estratégico pra atingir seus objetivos. Assim, essa relação com os índios além de garantir a defensa da Casa da Torre, Garcia D´Avila se defendia das acusações de não dar importância as salvação das almas.
Mas seus índios não tinham propósito catequético, pois seus interesses econômicos falavam mais alto. Para Garcia D´Avila interessava somente a conquista e expansão do seu patrimônio, pouco estava preocupado com as almas dos povos indígenas, assim aqueles não se uniam a ele dizimados. Entretanto, deve-se ressaltar que Garcia D´Avila era fruto do seu tempo, portanto, havia a idéia que o homem tinha o direito de desfrutar totalmente da natureza, mesmo que fosse preciso destruí-la, e o índio, era visto como parte dessa natureza, consequentemente, poderia ser usufruído ou destruído pelos brancos.
A expansão da pecuária e guerra nos sertões:
Ordens religiosas que desenvolviam trabalhos missionarios, sofreram oposição dos colonos. Em relação à região do São Francisco, houve o confronto entre jesuítas e a Casa da Torre, sendo essa destruindo várias missões, ofensas de ambas a partes, e ajuda à Coroa e à Igreja.
Mas mesmo assim as conquistas continuaram, e os currais da Casa da Torre avançam cada vez mais trazendo consigo confrontos armados. Afinal, as terras propícias ao pasto, eram também, uteis a agricultura dos povos indígenas, mas esses não aceitariam que suas terras fossem tomadas sem fazer nada a respeitos. Consequentemente, começa-se a resistência dos gentios, ocasionando na guerra entre Garcia D´Avila e os índios.
As ações da Casa da Torre não ocasionaram somente a desapropriações de terras dos indígenas, mas também a escravização desses povos nos trabalhos na pecuária, e os que resistiam eram castigados, além da comercialização desses escravos. Portanto, os Ávilas destruíram e dizimaram povos indígenas no território sergipano, em razão da expansão da pecuária, pois para eles o interesse econômico era muito mais importante.
Em Sergipe a conquista se intensificou no governo de Luiz de Brito, que tinha interesse de anexar o território sergipano ao seu domínio, a capitania da Bahia, e Almeida, prosseguindo os seguintes governos. Mas a conquista do território sergipano se consolidou de fato com a campanha dirigida por Cristóvão de Barros em 1590, fundando a cidade de São Cristóvão e implantando a Capitania de Sergipe Del Rey. Garcia D´Avila financiou as tropas e abastecimentos dessas, forneceu muitos índios mansos para compor as tropas, alem do uso de todo seu prestígio político, pois os próprios criadores de gado instigaram Luiz de Brito na luta arma. Sendo Garcia D´Avila, quem mais ganhou terras em Sergipe depois de sua conquista, pois seu interesse econômico via nessas terras bons pastos para expansão de sua criação de gado.
Assim, o Governo luso-espanhol, junto com autoridades baianas, optou pela guerra para colonizar e conquistar o território entre o Rio Real e o São Francisco, pois a catequese inaciana iniciada em 1575 não tinha vantagens econômicas para a Coroa e criadores de gados.
Havia grandes interesses em conquistar essa localidade. Pois a expansão da criação de gado nessa área proporcionaria a ligação do território da Bahia e Pernambuco, abastecendo assim, os grandes engenhos de açúcar desses Estados, portanto, servia de apoio as grandes Capitanias baianas e pernambucanas. Podemos ressaltar a frase de Felisbelo Freire, a qual dizia que “antes do sergipano ser lavrador, foi pastor”. Com essa frase podemos perceber que depois da colonização, feita de forma violenta por Cristóvão de Barros e financiada por Garcia D´Avila, o qual os Tupinambás saíram derrotados, a origem da identidade sergipana esta ligada á cultura pastoril, segundo Freire.
Maria Thetis Nunes, em Sergipe Colonial I compreende essa empreitada como interesse dos proprietários como parte da expansão açucareira e da criação de gados baianos. Reconhecendo a importância da Casa da Torre no processo de colonização de Sergipe.
Há também outras duas questões. A primeira é que essa região do Rio Real até São Francisco, por não ser ainda conquistada pela coroa portuguesa, favoreceu a entrada de franceses, que mantinham até mesmo relações com índios da região, colocando em perigo Salvador, capital da colônia. Portanto, era necessário à Coroa portuguesa integrar essa área a administração de capitania, como no restante do Brasil. A segunda questão é que Sergipe servia de refúgios de índios fugidos da Bahia, pois eram perseguidos para se tornem escravos.
Mas antes de 1590 houve outras tentativas de Garcia D´Avila para conquistar os sertões. Como em março de 1550, partiu com suas tropas para subjugar aldeias Tupinambás, hostis à colonização. Os indígenas resistiram, mas acabaram sendo derrotados, e acabaram sendo submetidos à escravidão. Cumprindo assim as ordens da Coroa portuguesa e de Tomé de Souza. Portanto, Garcia D´Avila prestou bastante serviços à Coroa, o que acabou também ajudando na sua posse das sesmarias.
A economia e a consolidação do patrimônio:
O patrimônio da Casa da Torre está relacionado intimamente com a família Garcia D´Avila e seus descendeste diretos ou indiretos. A qual envolve fazendas, pessoas e poderes no território nordestino. Assim, essa descendência acumulou bens e poderes entre os familiares e autoridades. Ou seja, o patrimônio da Casa da Torre esta relacionado ao acumulo de poderes econômicos e políticos de geração a geração dos Ávila. Tudo isso, começando com os primeiros currais. Um importante detalhe é observar que Garcia D´Avila com apenas 24 anos de idade já era o homem mais poderoso e rico da Bahia, mesmo aparentemente não sendo de linhagem nobre.
Currais, arrendamentos e abastecimento:
A base fundamental da economia da Casa da Torre no território sergipano foi a pecuária. Pra se ter uma idéia, pouco tempo depois que Garcia D´Avila começou seu investimento na criação de gado, logo começou a faturar enormes quantias em dinheiros. Sendo esse progresso cada vez maior, tendo a necessidade cada vez mais de aumentar seu território para a pecuária, assim, Tomé de Souza mais uma vez lhe cedeu consideráveis pedaços de terras. Há também no vale do Rio São Francisco lambedouros naturais de sal.
Outros negócios da casa:
A pecuária era a base fundamental da Casa, mas a nível de curiosidade é interessante também saber que houve a busca de metais e pedras preciosas e desenvolvimento de algumas culturas agrícolas, houve também a exploração de salitre.